A Universidade Federal do Acre, desde a criação da Faculdade de Direito em 1964, passando pela institucionalização do Centro Universitário do Acre em 1970, pela criação da Fundação Universidade do Acre em 1971 e sua federalização em 1974, até os dias atuais, se constitui como a única universidade federal pública e gratuita a desenvolver a educação superior do estado. Atualmente, dos vinte e dois municípios acreanos, dezoito encontram-se interligados por via terrestre, facilitando a atuação da expansão do ensino superior no estado, sendo que, para os outros quatro municípios, ainda existe dificuldade de logística, haja vista a ligação ser estabelecida somente por via fluvial e aérea. O Acre tem ligação por via terrestre com as demais regiões brasileiras, e também com países vizinhos (Bolívia e Peru), incluindo o acesso aos portos do Oceano Pacífico, possibilitando a inserção regional da UFAC.

O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2020-2024) norteia o foco das ações institucionais nos dias atuais, na esteira das transformações tecnológicas, o Acre se incorporou ao circuito mundial das redes de comunicação global. Em outras palavras, a Universidade Federal do Acre, que sempre foi descrita com a marca do “isolamento geográfico” e pelas limitações da interação acadêmica, hoje se defronta com os desafios postos pela globalização, na medida em que todos os canais deste processo se comunicam com a região acreana, em maior ou menor intensidade. Assim, no contexto local e global em que está inserida nesta segunda década do século XXI, a UFAC tem atravessado um paradigma técnico-científico em transformação, onde se exige cada vez mais o uso de métodos transdisciplinares, interdisciplinares e reflexivos, com elevado grau de responsabilidade social. Essas transformações estabelecem novas exigências acadêmicas para se enfrentar as grandes questões e/ou desafios socioeconômicos acreanos da nossa época.

A inserção regional de uma universidade com as características da UFAC, localizada fora do eixo político- econômico nacional, demanda muito mais esforço para que sua missão de produzir, sistematizar e difundir conhecimentos possa ser cumprida. Todas as ações acadêmicas precisam estar referenciadas e comprometidas com a realidade regional e local. Este é o sentido contemporâneo a respeito da inserção regional da educação superior, proveniente do aprendizado das últimas décadas.

O comprometimento não significa o relaxamento das dimensões teóricas, históricas e instrumentais das ações acadêmicas da instituição. Pelo contrário, considerar o contexto regional nas formulações dos projetos pedagógicos, incluindo as ações de pesquisa e de extensão, requer a proteção dos princípios do rigor científico que fundamentam cada uma das áreas do conhecimento da universidade. Desse modo, a inserção da Universidade Federal do Acre, numa região com muitas fragilidades nos campos técnico- científico e econômico, depara-se com desafios localizados nos diferentes setores de atividades e categorias sociais, num contexto mais complexo que aquele de cinco décadas atrás, quando se iniciou a história da UFAC. A consciência desses desafios exige que as políticas de ensino, pesquisa e extensão, em todas as suas dimensões, sejam formuladas e implementadas com base na realidade acreana, sem prejuízo dos critérios que compõem o arcabouço do padrão científico moderno.

Nessa direção, o Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade (PPGLI – UFAC) tem exercido um papel preponderante na região no que concerne a formação de professores para o ensino superior na Amazônia Sul-Ocidental, uma área de grande importância estratégica na geopolítica amazônica e pan-amazônica, por envolver todo o estado do Acre, o Sul do estado do Amazonas, o Oeste do estado de Rondônia e toda uma ampla faixa de fronteira com as Amazônias peruana e boliviana. Essa parte da região amazônica e pan-amazônica abrange distintos territórios amazônicos de florestas e cidades que, em conjunto, conta com uma população de mais de 10 milhões de pessoas, com significativa diversidade étnica, linguística, cultural e social. Somente para se ter uma ideia, além do Português e do Espanhol e todas as suas variações, somente na área da Amazônia acreana com suas fronteiras geográficas e culturais convivem milhares de 15 mil falantes de doze línguas indígenas das famílias linguísticas Aruak (Ashaninka e Manchineri), Arawa (Madija) e Pano (Apolima-Arara, Jaminawa, Katukina, Kaxinawa, Nawa, Nukini, Puyanawa, Shawãdawa, Shanenawa e Yawanawa).

É nesse contexto sociocultural e geográfico que o PPGLI – UFAC está encravado, constituindo-se como de fundamental importância para a formação continuada de professores e outros profissionais da educação básica e da educação superior nas áreas de letras, história, educação, geografia, filosofia, ciências sociais, artes, sociologia e outras para profissionais que atuam em redes municipais, estaduais e federais de ensino, bem como ONGs e Institutos de pesquisa e outros órgãos governamentais. A Universidade Federal do Acre conta com dois campi no Estado, um na capital e outro em Cruzeiro do Sul, somados aos quatro núcleos existentes onde são ofertados cursos permanentes ou eventuais de formações de professores em convênios com governo estadual e prefeituras.

A partir do ano de 2008 o Acre passou a contar com a implantação do Instituto Federal do Acre – IFAC, que hoje conta com seis campi, sendo quatro deles nas cidades acreanas de Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Xapuri e Sena Madureira. Hoje, muitos professores desta instituição fizeram ou estão fazendo mestrado no PPGLI e são profissionais que almejam em curto prazo darem continuidade à pós-graduação em nível de doutorado.

Inúmeras características e singularidades conectam o Brasil, Bolívia e Peru na Amazônia Sul-Ocidental, indicando possibilidades de traçar efetivos intercâmbios acadêmicos em diversas áreas do conhecimento, notadamente nas áreas de Linguística e Literatura, Ciências Humanas, Sociais e Naturais. Não por acaso, a UFAC recebe muitos estudantes bolivianos e peruanos em seus cursos de graduação e pós-graduação, que procuram esta instituição, principalmente, por esta se constituir como uma universidade pública e oferecer cursos de pós-graduação que são muitos raros ou inexistentes em seus países de origem.

Como é possível apreender, todo o estado do Acre, Sul do Amazonas, Oeste de Rondônia e regiões amazônicas do Peru e Bolívia compartilham espaços sociais, políticos e culturais com características comuns, marcadas por uma ampla diversidade linguística, cultural, étnica e identitária. Espaços esses que possibilitam diferentes pesquisa e estudos, intercâmbios e produção de material didático para a educação básica, notadamente, voltados para o atendimento de populações indígenas e outras comunidades humanas de cidades e florestas, algumas de difícil acesso, ampliando o alcance das ações universitárias e concorrendo para o fortalecimento da Área de Linguística e Literatura em nível regional, na parte amazônica em que, na atualidade, a UFAC se constitui como a única instituição com capacidade instalada para a criação de um Doutorado nessa área, contribuindo também para o fortalecimento da área em estados brasileiros como Rondônia e Amazonas, fundamentalmente, considerando as peculiaridades do PPGLI.

É preciso ainda considerar a divisão geográfica da Amazônia internacional ou Pan-Amazônia, um macro conjunto de territórios que abrange parte significativa de países da América do Sul: Brasil, Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. No que diz respeito ao Brasil, a Amazônia corresponde ao impressionante total de 61% do território nacional, com uma população que se aproxima a 17 milhões de pessoas, distribuídas em mais de cinco milhões de quilômetros quadrados. Desse total, devemos destacar que na faixa territorial abrangida pelos estados do Pará, Amazonas, Roraima, Tocantins, Acre, Amapá e Rondônia, ou seja, a expressiva maior parte dos estados amazônicos brasileiros, contamos com apenas dois cursos de pós-graduação em nível de doutorado na área de Linguística e Literatura: o primeiro na Universidade Federal do Pará e o segundo na Universidade Federal do Tocantins, ambos na parte oriental da Amazônia.

Esse quadro aponta o importante papel ser exercido pelos cursos de mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagem e Identidade, na Universidade Federal do Acre, localizada na parte mais ocidental da vasta região amazônica, especialmente, no tocante ao assegurar imprescindíveis oportunidades de formação continuada a pesquisadores e professores nessa parte do Brasil e países vizinhos e contribuir para minimizar os déficits e assimetrias regionais.

O PPGLI – UFAC iniciou suas atividades acadêmicas no ano de 2006, com a implantação do Curso de Mestrado em Letras: Linguagem e Identidade e, em 2019, após a aprovação da proposta de APCN no ano anterior, tece início o curso de doutorado com o ingresso da primeira turma. Desde a sua implantação, até

a presente data, o Programa já titulou 241, sendo que a maioria desses egressos atuam na educação superior, na educação básica ou em organizações que trabalham com questões relacionadas às linhas prioritárias de pesquisa do Programa.

Assentadas na Área de Concentração Linguagem e Cultura estão as duas linhas de pesquisa do PPGLI: Culturas, Narrativas e Identidades Amazônicas; Lingua(gens) e Formação Docente, que abrigam vinte e dois projetos de pesquisa e toda uma estrutura curricular com disciplinas obrigatórias e eletivas que permitem o trânsito e circularidade em torno de ideias, conceitos e teorias.

Um Programa da Área Linguística e Literatura, que, em sua composição, “aborda estudos literários, linguísticos e interdisciplinares, cujo enfoque crítico-teórico, descritivo e analítico tem como objeto de análise a língua e a literatura em seus mais variados escopos. Tais estudos perpassam inúmeras perspectivas, a exemplo dos estudos da tradução, dos estudos culturais, dos estudos aplicados, das questões relativas ao ensino”. Considerando a interdisciplinaridade como elemento basilar de “sua concepção teórico-crítica, permitindo um redimensionamento de seus objetos e métodos de investigação, conduzindo a uma reflexão epistemológica atenta a várias possibilidades de análise”, conforme documentos da área.

Nessa direção o PPGLI da UFAC tem em seu foco principal o caráter interdisciplinar como meio para enfrentar os grandes desafios para a Área de Linguística e Literatura, que se configura em encarar as “demandas trazidas pelo século XXI que não encontram respostas na disciplinarização, na compartimentalização e na divisão de saberes. Ações de natureza inter e transdisciplinares, voltadas para a integração entre disciplinas e deslocamento de fronteiras disciplinares rígidas, colocam-se, portanto, como fundamentais no fazer científico da contemporaneidade”.

No âmbito do Programa, os estudos linguísticos e literários sempre interagiram, alimentaram e se retroalimentaram de abordagens do campo dos estudos culturais, decoloniais, de gênero, da tradução cultural, do ensino e formação docente, além de outros diferentes objetos de pesquisas dos universos amazônicos e pan-amazônicos.

O Programa dispõe de procedimentos e critérios para o Credenciamento, Recredenciamento e Descredenciamento de Docentes no PPGL, em conformidade com as recomendações dos documentos de área, e para processos de seleção anual de alunos, com etapas eliminatórias e classificatórias e uma bem definida política de afirmativa para promover a inclusão social.

O Programa é responsável pela edição do periódico Muiraquitã – Revista de Letras e Humanidades, um veículo eletrônico, semestral, sem fins lucrativos, com o objetivo de propiciar o intercâmbio, circulação e difusão de estudos e pesquisas nas áreas de Linguística e Literatura, Artes, Ciências Humanas e Sociais. O periódico passou a ser eletrônico a partir do ano de 2015, com a atribuição do ISSN 2525-5924. Anteriormente, a revista possuía outro registro devido ao suporte impresso: 1807-1856.

A Revista Muiraquitã em sua versão eletrônica está registrada com o DOI: https://doi.org/10.29327/210932, e possui o índice h5 no Google Acadêmico https://scholar.google.com.br/citations?user=7i4RgW4AAAAJ&hl=pt-BR&authuser=1

Mantida por Instituição Federal de Ensino, pública e gratuita localizada em uma das mais estratégicas fronteiras amazônicas e pan-amazônicas, Muiraquitã não cobra nenhum tipo de taxa para a publicação de contribuições na forma de suas diretrizes e está disponível para leituras e downloads completamente

gratuitos. Dentre seus focos principais está a difusão e circulação de resultados de pesquisas e ideias de professores e estudantes de graduação e pós-graduação de universidades dessa macro região, bem como conectar-se com as experiências de professores da educação básica e com as diferentes formas de produção e transmissão de saberes de comunidades humanas e movimentos sociais das florestas e cidades amazônico-andinas.

Em chamadas específicas e fluxo contínuo, as contribuições (artigos, entrevistas, ensaios, traduções e resenhas) podem ser livres (miscelâneas) ou vinculadas a dossiês temáticos organizados por pesquisadores da área.

Atualmente, a revista conta com oito volumes publicados, com dois números cada, incluindo dossiês temáticos, que envolvem pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Em 2020, uma recomposição da equipe editorial incluiu revisores específicos de línguas estrangeiras e atuação permanente de revisoras de língua portuguesa, além de uma equipe de comunicação social para divulgação de chamadas e notícias referentes ao periódico em redes sociais.

O Conselho Editorial conta com docentes do PPGLI e também com docentes de PPGs de outras regiões do país e do exterior, à exemplo de Ana Pizarro, (Universidad de Santiago de Chile, Chile), Jossiana Arroyo Martínez (Universidade do Texas, campus de Austin, Estados Unidos) e Maria Clotilde Chavarría (Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Peru).